segunda-feira, agosto 12, 2013

Lisete Fradique: “Voluntariado é um exercício de Cidadania”

Um anjo da guarda. É assim que Joana se refere a Lisete, a voluntária do Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos que ficou de lhe levar o cabaz do banco alimentar de quinze em quinze dias, mas faz muito mais do que isso.

Joana e Lisete

Joana está reformada por invalidez há mais de cinco anos e desde então tem recebido ajuda do Centro Comunitário. Doente e com problemas de mobilidade, não consegue deslocar-se ao Centro para levantar o cabaz de
alimentos a que tem direito.

Lisete está reformada e decidiu dedicar algum do seu tempo ao voluntariado, não porque “precise”, mas porque sente que tem “obrigação”. “É um exercício de cidadania”. Enfermeira de formação, dedicou a vida a ensinar enfermagem e o Centro Comunitário viu nela a pessoa certa para acompanhar Joana.

Mas não o faz sozinha. Lisete é sempre, ou quase sempre, acompanhada pelo marido, Fernando Fradique que também abraçou este projeto de alma e coração.

Lisete e Fernando Fradique

A ideia era entregar-lhe o cabaz em casa, duas vezes por mês, mas na realidade faz muito mais: “Ajuda-me em tudo”, resume Joana. Lisete e o marido, Fernando José, levam Joana às consultas médicas, fazem recados quando ela lhes pede e fazem a leitura do contador de eletricidade (o que é difícil para Joana). Além disso, comprometeram-se a apoiar Joana financeiramente e todos os meses lhe pagam a água e a luz. Mas, acima de tudo, estão lá para ela. Visitam-na, telefonam, conversam.

“Não é estritamente de 15 em 15 dias trazer o cabaz e ‘adeus’. Há uma tentativa de estabelecer uma relação um pouco mais profunda”, admite a voluntária.

Na noite de Natal, por exemplo, Lisete e o marido não tinham consoada em família, por isso jantaram mais cedo, foram à paróquia e decidiram visitar Joana, que estava sozinha.

“Acho que ela gostou e eu fiquei muito contente, senti-me muito bem. Ficámos a conversar com ela, sem dramatismo nenhum, sem lamechice”, conta a voluntária.

Lisete, que diz que “nem merece o título de voluntária” porque o que faz “é pouquíssimo”, admite, no entanto que o seu contributo é positivo: “Eu penso que ela se sente apoiada, sabe que tem aqui uma âncora. (…) Dá-lhe imensa
segurança”.

“Apadrinhamento” de famílias
Lisete é uma de 33 voluntários que entregam cabazes ao domicílio e uma de quatro que aderiu ao programa de apadrinhamento do Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos.

O projeto surgiu no ano passado para responder às necessidades das pessoas com dificuldades de mobilidade, que precisavam que o cabaz lhes fosse entregue em casa.

Mas não só. “Tínhamos também muitos casos de pessoas que nunca tinham passado por esta situação [receber ajuda alimentar] e percebemos que se
sentiam muito constrangidas de vir aqui buscar o cabaz”, conta Marta Pereira, assistente social do Centro.

A entrega ao domicílio pareceu uma boa solução também para estes casos: “É diferente ir alguém ao prédio, que não vai identificado nem vai numa carrinha do Centro”, diz.

O padre António Teixeira, pároco de Carcavelos e presidente da direção do Centro, falou do projeto na missa e cerca de 40 pessoas responderam ao apelo.

Na primeira reunião, em maio, os responsáveis do Centro explicaram aos candidatos a voluntários o que se pretendia, que era apoiar as famílias, mas
também estabelecer uma ponte entre esta rede informal e a instituição.

“E foi aqui que algumas resultaram muito para além da entrega do cabaz. Foi-se estabelecendo uma relação”, sublinha Marta. Alguns voluntários acompanham as famílias se for preciso ir tratar alguma coisa a um serviço, a consultas.

Alguns têm competências específicas e dão explicações aos miúdos, exemplifica a assistente social, explicando que o Centro tenta aproveitar os recursos dos voluntários em função das necessidades específicas das famílias.

Logo em maio, as assistentes sociais aferiram a disponibilidade dos voluntários para um apadrinhamento regular em algumas despesas específicas, mas o projeto não avançou logo.

Ainda assim, alguns voluntários, quando se apercebiam de que o cabaz não estava tão recheado, compravam eles próprios o que faltava e alguns avançaram mesmo para o programa de apadrinhamento.

Neste momento, quatro dos 33 voluntários que fazem entregas de cabazes são já ‘padrinhos’ fixos e outros ajudam esporadicamente. Para Marta Pereira, este projeto está a revelar-se “uma mais-valia”. “Nos casos em que é meramente a entrega do cabaz, facilita muito. Nos outros, em que tem havido um acompanhamento extra, tem sido ótimo”.


Filipa Parreira
Voluntária

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