sexta-feira, abril 27, 2012

Aulas de cidadania na Casa Jubileu



Aprender a ser cidadão. Parece simples… mas para pessoas numa situação fragilizada como as que estão na Casa Jubileu 2000, é uma mais-valia trazer a debate estas questões de cidadania. Foi isso que as voluntárias Manuela Carmona e Berta Figueiredo, professoras durante muitos anos, fizeram para os residentes.
Manuela Carmona começa a formação falando do património automóvel de Cristiano Ronaldo. Estranho? Talvez. E depois segue-se a pergunta: “Quem gostaria de estar nesta situação?” Vêem-se alguns braços no ar… Manuela responde: “Eu, como cidadã do mundo, teria vergonha de estar nesta situação”. E é este facto curioso que serve de primeiro passo para Manuela falar da má distribuição da riqueza mundial.
Daqui parte-se para outros assuntos demográficos a nível Mundial até se chegar finalmente à situação portuguesa. Fala-se da diminuição da natalidade, do envelhecimento da população, do aumento da imigração… até do Governo português e do estado frágil do nosso sistema de Segurança Social.
Mais ou menos informados, os interlocutores vão respondendo às perguntas das professoras. Mas o objetivo aqui é mais amplo: “pretendemos integrar e responsabilizar todos sobre o papel de cada um na sociedade atual: quais os seus direitos e os seus deveres”, afirma Manuela.
Berta Figueiredo destaca ainda a importância de todos os intervenientes serem “cidadãos mais conscientes e com um maior conhecimento da realidade a que pertencem” e considera que “a ignorância é inimiga da cidadania e da democracia” e que “ A informação é poder".
O público-alvo desta formação deixou as formadoras satisfeitas: “não é a primeira vez que estamos aqui e, já sabia que os residentes, embora sendo pessoas fragilizadas, são em alguns casos, pessoas cultas e interessadas em saber mais”, admitiu Berta.
Para Manuela o grupo pareceu-lhe bastante heterogéneo, havendo “desde os muito bem informados até àqueles alheios ao mundo que está à sua volta”. Manuela Carmona explicou a situação económica de Portugal. “Fiz o que pude para "puxar" por eles (…). Será que tomaram consciência da nossa situação económica e da responsabilidade que lhes é pedida? A avaliação o dirá... E a mudança de paradigma de vida também”, salienta a professora.
Berta ressalva ainda que “numa sociedade em crise torna-se urgente fomentar a Cooperação. Perante as dificuldades há que agir em prol de uma mudança para melhor”.
A intenção do Centro e das formadoras é que estas aulas continuem sem que haja grande espaçamento temporal entre elas. Como fez questão de focar Manuela: “É preciso dizer-lhes como disse Abraham Lincoln em carta dirigida ao professor do seu filho (e que lhes foi entregue) - «Professor, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais do que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos» ".

terça-feira, abril 24, 2012

Vidas com história


Já há algum tempo que Victor Coelho ouvia falar do Centro Comunitário e do que por cá se fazia, mas só há cerca de 8 meses, depois de muito incentivado pela mulher, decidiu vir pedir ajuda. Antes de tomar esse passo determinante, atravessava uma fase muito negativa na sua vida. Foi informado pelos seus médicos que tinha um cancro na bexiga, e na altura disseram-lhe que a doença já só lhe permitia ter mais 2 anos de vida. Perante esta notícia, toda a sua vida mudou. Apesar de uma tendência para o alcoolismo, conseguiu manter-se 20 anos sem beber. A notícia do problema de saúde levou-o de novo ao encontro dos maus hábitos: retomou a bebida, gastava dinheiro sem qualquer restrição, usava sem conta e medida o cartão de crédito, perdia dinheiro com o jogo… A agravar tudo isto as discussões com a mulher traziam um mau ambiente em casa. As dívidas cresciam e a situação descontrolou-se totalmente.Devido ao seu problema de saúde, foi submetido a duas cirurgias, fez quimioterapia e desde há 3 anos que a situação está controlada, continuando a manter as suas rotinas médicas.Foi com este panorama que se apresentou à Drª. Zulmira, a coordenadora  do Projecto Intervir, que prontamente lhe apresentou soluções. Encaminhou-o para a ABLA, para o Gabinete Dívida Zero, onde foi ajudado a fazer uma restruturação dos créditos. Entretanto a situação laboral da mulher também ajudou, visto que lhe foi proposta uma rescisão de contrato com indeminização, o que proporcionou a liquidação dos créditos e abrir uma conta no banco, para gerir ao longo do ano.Mais animado, e bastante motivado com a ligação que passou a ter com o Centro, foi com recurso à força e ao orgulho que, segundo afirma, o caracterizam, que conseguiu deixar de beber.Lentamente, tudo começou a voltar à normalidade. Passou a ter uma boa relação com a mulher, a quem muito admira e reconhece que sem ela, não estaria agora onde está. Para além disso, como o próprio afirma: “toda a bondade e boa vontade das pessoas que aqui trabalham e com ele convivem, transformou-o noutro ser”. Diz que agora também ele consegue ajudar os outros e compreender que tem que haver regras a cumprir na sociedade. “Tornei-me mais humano e responsável”, admite com orgulho.É devido a este conjunto de factores que muito gosta de passar o seu tempo no centro. Tornou-se voluntário e assistia diariamente “ao esforço que é feito para proporcionar algum bem-estar aqueles que pouco têm”. Criou nele próprio o desejo de cá trabalhar para provar a si mesmo que também consegue ajudar quem precisa. Depois de algum tempo como voluntário, o Centro propôs-lhe um estágio através do Programa “Vida Emprego”. Desde o início do ano que trabalha na manutenção do Centro. E pode assim contribuir diariamente para ajudar os outros, regressando todos os dias a casa com o sentimento de dever cumprido. “Sinto-me outro homem”, diz-nos sempre com agrado.